Espanha, país nosso vizinho, recebe todos os anos dezenas (quase arriscamos a dizer centenas, mas pode parecer exagero) de portugueses para iniciar o curso de medicina. Porquê? Certamente para alguns será por opção mas para a esmagadora maioria é a segunda opção. O nosso país tem vindo a exigir médias muito altas, nos 18s, para aceder ao curso de medicina e, infelizmente, nem todos os aspirantes a tal formação possuem dito requisito. É então que se começa a pensar em Espanha, onde um aluno que não tem tal média em Portugal tem hipóteses de entrar. Desengane-se, no entanto, quem pensa que entrar em medicina em Espanha é para todos. Ao contrário do que diz a sabedoria popular, a média em Espanha não é assim tão mais baixa que em Portugal, e tende a piorar. Mas então...
...porque é que os portugueses que não conseguem cá conseguem lá?
Digamos que Espanha permite aos alunos alterar a sua nota de candidatura, através da realização de exames, em espanhol, que irão acrescentar pontos à nota do aluno. É como uma segunda oportunidade. Em Portugal, ainda que as "melhorias" por exame permitam melhorar a nota interna de cada disciplina, a alteração não é tão notória como no caso de Espanha, com os "exames de selectividad".
...como se fazem as contas para saber a média que se tem para Espanha?
As notas para acesso ao ensino superior em Espanha apresentam-se numa escala de 0 a 14. A escala portuguesa é até 20. Para converter a nota portuguesa é dividida por 2, obtendo-se uma nota até 10. Em seguida, realizam-se os tais exames espanhóis (o aluno pode optar entre um conjunto de disciplinas) através dos quais poderá obter no máximo mais 4 pontos, para que a sua nota final esteja também na escala até 14.
...qual é a média em Espanha? A que nota corresponde isso em Portugal?
Até ao ano passado, um 11.6 (em 14) ou um 11.7 chegaria para estudar medicina em Espanha (claro está que depois depende da faculdade pretendida, tomem-se estes valores como os mais baixos de todos!!!). Este ano, ainda estamos para saber.
É difícil converter tal nota para uma nota portuguesa. Isto porque tanto um aluno com média de 16 em Portugal como um com média de 18 poderiam ter tido 11.6 para Espanha, dependendo dos pontos que obtiveram nos seus exames espanhóis.
Presumo eu que muitas vezes a pergunta acima feita seja uma maneira discreta de perguntar "Qual é a nota mínima que preciso em Portugal para entrar em Espanha?", pergunta à qual é difícil dar uma resposta. Façamos contas:
*aluno com 14 em Portugal (atenção, isto não é média de secundário mas sim nota de candidatura a medicina, actualmente calculada como média secundário x 0,5 + (exame bg + exame fq + exame matA)/3 x 0,5) tem 7 para Espanha + pontos obtidos nos exames espanhóis. Como foi referido acima, nos exames obtém-se no máximo mais 4 pontos. 7 + 4 = 11 que é insuficiente!
*aluno com 15 em Portugal tem 7.5 para Espanha, 7.5 + 4 = 11.5 que e insuficiente! (atenção que 4 implica ter 100% no exame de quimica e no de biologia espanhóis)
*aluno com 16 tem 8 para Espanha, 8 + 4 = 12 que é suficiente! De destacar que este aluno nem precisará de 4 para conseguir entrar (isto a pensar nas notas de corte do ano passado!!!!) mas também não terá uma margem assim tãããão grande, 3.6 seria mais ou menos o limite.
*aluno com 17 tem 8.5 para Espanha, 8.5 + 3.5 = 12 que é suficiente! Neste caso, o aluno com 3.5 pontos nos exames espanhóis já terá uma nota confortável, menos de 3.5 ainda seria admissível, como seja um 3.1.
A partir daqui cabe ao aluno fazer as contas à sua média e verificar quantos pontos precisa nos exames espanhóis para ser admitido em medicina em Espanha (para outros cursos funciona da mesma forma, mas as médias são diferentes.)
...como sei quantos pontos tenho no exame se estes são classificados até 10?
Dentro dos 6 exames possíveis, realizas os que quiseres, na condição de que no final só contarão os dois que te atribuírem mais pontos (que não são necessariamente aqueles onde tens melhor nota!!!).
Passo a explicar: dentro dos 6 exames possíveis (biologia, quimica, fisica, matematica, ciências da terra e anatomia aplicada) há uns que contam mais que outros, conforme o curso. Para medicina os que contam mais são biologia e quimica. Os restantes valem metade. Assim, quando fazes os exames, a nota que tens (que é até 10) é multiplicada por um coeficiente estipulado (ver em seguida) para obter os tais pontos extra.
biologia - 0,2
quimica - 0,2
fisica - 0,1
matematica - 0,1
ciencias da terra - 0,1
anatomia aplicada - 0,1
No final, fazendo as contas, ter 5 (50%) a biologia vale tanto como ter 10 (100%) a matemática, por isso se diz que há exames que valem mais que outros.
Para que se perceba exactamente como são feitas as contas, imagine-se esta situação totalmente fictícia:
«Um estudante com nota de candidatura a medicina em Portugal de 17,4 realiza os exames de selectividad espanhóis de biologia, química e física obtendo as seguintes classificações: biologia - 8 ; química - 7 ; física - 7,5
8 x 0,2 = 1,6
7 x 0,2 = 1,4
7,5 x 0,1 = 0,75
Os dois exames onde obteve mais pontos foram biologia e química (ainda que a nota de física tenha sido superior à de química) então são esses dois que serão contados.
nota de Portugal: 17,4 / 2 = 8,7
notas dos exames: 8 x 0,2 = 1,6
7 x 0,2 = 1,4
nota final para concorrer a Espanha: 8,7 + 1,6 + 1,4 = 11,7»
Atenção: os coeficientes apresentados acima são os que estão definidos no geral mas de ano para ano cada faculdade pode fazer alguns ajustes. Ajustes no sentido de química e biologia valerem sempre 0,2 mas cada faculdade pode definir que naquele ano vai atribuir 0,2 também a outras disciplinas. Por isso, recomenda-se que o candidato esteja atento e vá consultando possíveis actualizações destes parâmetros nas faculdades do seu interesse.
...existe algum contingente especial ou limite de vagas para portugueses em Espanha?
Nas faculdades públicas, NÃO! Os alunos portugueses estão "em concorrência directa" com os alunos espanhóis.
...estudar em Espanha fica mais caro?
Depende! Depende porque há faculdades onde as propinas são mais caras do que em Portugal e outras onde são mais baratas. Mas este factor terá de ser continuamente avaliado visto Espanha já ter dado inicio ao aumento das propinas e Portugal estar ainda agora a começar. Depende também porque há cidades onde o custo de vida é maior (e todos sabemos que em Madrid e Barcelona é efectivamente assim) mas nas outras cidades menos cosmopolitas não andará muito longe dos valores das nossas cidades. Depende também da distância e da frequência com que o estudante se desloca a Portugal e do meio de transporte que escolhe.
Estas são algumas das questões mais habituais, com certeza haverá mais, portanto não hesitem em perguntar. Na publicação "Introdução" está referido o nosso email. Também respondemos aos comentários.
A equipa